O ex-presidente da Câmara já teria elaborado ao menos 100 anexos com crimes e fatos que pretende relatar ao Ministério Público
O ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) (Cristiano Mariz/VEJA)
Preso desde outubro de 2016, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está mesmo negociando um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), que deve atingir o coração do governo federal, imputando práticas criminosas ao presidente Michel Temer (PMDB) e a dois de seus principais ministros, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral).
As informações foram publicadas nesta quinta-feira na coluna da jornalista Mônica Bergamo, no site do jornal Folha de S.Paulo. Segundo a jornalista, o ex-deputado já elaborou mais de cem anexos para colaborar com a Justiça. Cada anexo é uma espécie de arco factual diferente apresentado pelo colaborador. Além de Temer, Padilha e Moreira integravam o grupo que comandava a bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, da qual Cunha foi integrante – e, segundo as investigações, um dos responsáveis pela arrecadação de recursos de campanha.
A previsão é a de que ele conclua a sua parte na negociação entregando documentos e revelando crimes seus e de terceiros até o final da próxima semana. De acordo com a reportagem, Eduardo Cunha teria evidências concretas dos fatos que está relatando. O ex-deputado estaria utilizando uma sala no Complexo Médico-Penal de Pinhais, onde está preso em Curitiba (PR), para passar aos seus advogados as informações que pretende entregar ao Ministério Público.
Se confirmada, a delação de Cunha viria em um momento delicado para o governo Temer. Enfrentando uma denúncia por corrupção passiva, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente busca convencer os parlamentares – responsáveis por analisar o futuro da acusação – de que o governo está firme e de que as acusações contra ele são infundadas. Se o ex-presidente da Câmara comprometer de forma significativa Temer, por certo isso influenciaria a decisão dos deputados, quando optarem por votar contra ou a favor da aceitação da denúncia.
Levantamento de VEJA mostra que, até agora, 42 dos 66 parlamentares que compõem a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) tem posição indefinida diante da acusação da PGR. Por outro lado, dezenove deputados já se manifestaram a favor da aceitação, enquanto apenas cinco se comprometem a votar contra a denúncia. Outro acordo de delação que está sendo negociado e pode impactar o governo é o do doleiro Lúcio Funaro, que é apontado pelas investigações da Operação Lava Jato como operador de propinas para o PMDB.
De acordo com a delação do empresário Joesley Batista, do grupo JBS, eram essas – Cunha e Funaro – as duas colaborações que o presidente Michel Temer e seus aliados próximos se esforçavam em evitar. Na fatídica gravação de conversa no Palácio do Jaburu entre Joesley e Temer, ambos são citados em diálogos que indicariam, de acordo com os investigadores, o consentimento do presidente com o pagamento de propinas pelo empresário a ambos, em troca de não delatarem.
Na segunda-feira, por decisão do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, foi preso o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (PMDB), outro aliado próximo de Temer, com base em fatos relatados por Funaro. Segundo o doleiro, Geddel pressionava sua esposa para que não fizesse acordo de colaboração. A narrativa bate com a professada por Joesley, que identificava o ex-ministro como seu antigo interlocutor, no grupo do PMDB, a respeito de seus interesses e do andamento das investigações.
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