quarta-feira, 16 de maio de 2018

O teatro do absurdo no Brasil: o que fazer com a candidatura de Lula?

© REUTERS Simpatizantes de Lula no Cristo Redentor do Rio.

A situação política do Brasil, a poucos meses da eleição presidencial, beira o absurdo se a última pesquisa CNT/MDA refletir a realidade. Teríamos, com efeito, o seguinte panorama, difícil de entender fora das fronteiras do país: o popular ex-presidente Lula da Silva, líder indiscutível do seu partido, o PT, na prisão e impossibilitado de disputar as eleições, obteria hoje no primeiro turno quase o mesmo número de votos que a soma dos outros quatro candidatos com maior apoio: Jair Bolsonaro, com 16,7%, Marina Silva, com 7,6%, Ciro Gomes, com 5,4%, e Geraldo Alckmin com 4%. Juntos têm 33,7%, contra 32,4% de Lula. E isso mais de um mês depois de ele ser preso e com poucas chances de ser solto.

Como se fosse pouco, no segundo turno o ex-presidente seria eleito com o dobro de votos que qualquer de seus competidores, e com seis vezes mais (49% contra 8,3%) que Michel Temer, o atual presidente da República. Por que se trata, então, de uma situação absurda? Porque Lula é um político condenado por corrupção em segunda instância a mais de 12 anos de prisão e, segundo a Lei da Ficha Limpa, está impossibilitado de disputar eleições. E até poderia ocorrer que, antes da votação de 7 de outubro, o ex-presidente voltasse a receber uma segunda condenação, também por corrupção, enquanto ainda é réu em vários outros processos.

No mesmo levantamento em que o ex-presidente aparece como vencedor indiscutível outros dados revelam o absurdo da situação. Para 51% dos eleitores, a prisão de Lula “é justa”, e 49,9% a consideram “injusta”, enquanto 40,8% acreditam que Lula “não poderá disputar as eleições”. É um país claramente partido em dois. Não é estranho que, frente a esse panorama, o PT mantenha acesa a chama da esperança de poder arrancar do Tribunal Superior Eleitoral alguma saída jurídica que lhe permita, ainda na cadeia, disputar uma eleição que ele ganharia por ampla margem.

Por isso Lula e seus mais fiéis correligionários do PT se negam a buscar um substituto para disputar a eleição, tentando assim capitalizar os milhões de votos que ele continua tendo. Daí que o partido tenha decidido que Lula será candidato até o momento em que a Justiça determinar definitivamente se poderá ou não ser candidato a presidente.

O problema é que o jogo é grave, porque essa incerteza poderia se manter mesmo depois de ter vencido a eleição, que até correria o risco de ser anulada se a Justiça afinal decidisse que o ex-presidente era inelegível. Tudo isso em uma eleição tão importante, num momento tão crítico para o país, e com um PT que poderia se ver tentado, como já insinuaram alguns de seus líderes, a impugnar o resultado de uma votação em que Lula não figurasse. Voltaria a soar o alarme de um novo golpe, como foi no caso do impeachment de Dilma Rousseff, e o panorama político se tornaria ainda mais sombrio, se é que isso é possível.

Diante dessa situação que recorda o teatro do absurdo, seria importante que os altos tribunais de Justiça decidissem o caso Lula sem esperar mais, de um modo ou de outro, sem possibilidade de dúvidas, se não quiser continuar brincando com fogo, comprometendo a já grave incerteza e o desânimo dos eleitores, que ameaçam, como nunca no passado, com o castigo do voto em branco ou nulo. Se há algo de que necessita neste momento um país da importância do Brasil no continente americano e no tabuleiro mundial é de clareza e celeridade judicial para que as eleições presidenciais possam se realizar com tranquilidade e segurança democrática, sem que sobre elas se abata a grave sombra da ilegalidade ou de jogos pouco limpos sob a mesa.

por Juan Arias
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