João Miguel de dois anos de idade sofreu queimaduras de 3º grau.
Esse foi o primeiro resgate que o bombeiro fez durante um incêndio.
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Cabo Vinícius durante visita ao futuro afilhado, João Miguel, de 2 anos (Foto: Marcos Vinícius/Arquivo Pessoal)
Um bombeiro militar foi convidado a ser padrinho de uma criança de dois anos após resgatá-la de um incêndio, em Cuiabá. João Miguel estava em casa com suas três irmãs mais velhas, com idades entre 11 e 14 anos, quando o fogo teve início. A criança ficou presa em um dos quartos, onde o fogo teve início, e apenas foi salva porque o cabo Marcos Vinícius Castro de Arruda, de 32 anos, decidiu se arriscar em meio ao fogo e fumaça para encontrá-la. Ao G1, ele relembrou que o alerta foi dado por um vizinho da família.
“Quando chegamos, o capitão entrou todo equipado, fez a primeira análise e não encontrou ninguém. Começamos a combater o fogo no telhado quando um vizinho se aproximou de mim e disse que ainda havia um garotinho dentro da casa. Na hora, não pensei em mais nada. Lembrei do meu filho, que tem apenas um ano e dois meses, passei a mangueira de água para o soldado que me acompanhava e entrei na casa”, disse.
O incêndio ocorreu na manhã do dia 14 de dezembro. A mãe de João Miguel, Vanessa Aparecida Ferraz Vital, de 35 anos, contou que, nesse dia, saiu mais cedo de casa para ir à creche municipal que existe no bairro, a fim de tentar uma vaga para o filho mais novo. “Fiz a matrícula dele e, ao chegar na empresa onde trabalho como auxiliar de serviços gerais, me avisaram de que a minha casa estava pegando fogo. Fiquei desesperada e voltei correndo”, afirmou.
A procura por João Miguel não foi fácil. Segundo o cabo Vinícius, que atua no 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros, havia muita fumaça e calor nos cômodos da casa e a visibilidade era quase nula no local. “Fui rastejando, apalpando colchões e desviando das telhas que caíam, porque ainda estava pegando fogo na hora”, relembrou.
Conforme o bombeiro, a casa onde a família morava era grande, mas o fogo se alastrou apenas pelos quartos, banheiro e parte da área de serviço. Enquanto tateava o chão dentro de um dos quartos atingidos, o cabo acabou tocando na perna da criança, que estava caída próximo do banheiro. “Ele estava com o corpo preso debaixo da madeira e, quando o peguei nos braços, estava bem 'molinho'. Na hora, eu pensei que ele estava morto”, contou.
Quarto onde João Miguel foi encontrado ficou completamente destruído pelo fogo (Foto: Rafael Afonso Gonçalves/Arquivo Pessoal)
O cabo Vinícius, então, levou a criança para uma parte da área de serviço onde não havia perigo de serem atingidos pelo fogo e começou a aplicar as técnicas de primeiros socorros na criança, que estava nua e inconsciente. Os bombeiros precisaram usar quatro cilindros de oxigênio para conseguir uma reação da criança.
“Quando ouvimos o choro dele, foi uma sensação de alívio muito grande. Nessa hora o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] chegou e o encaminhou para o Pronto-Socorro de Cuiabá”, afirmou o bombeiro.
Convite
João Miguel foi a primeira vítima resgatada pelo cabo Vinícius durante o combate às chamas em uma ocorrência de incêndio, em 12 anos de carreira no Corpo de Bombeiros. Ele disse que, ao chegar ao quartel continuou preocupado com o menino e, ao encerrar o plantão, 24 horas depois, decidiu fazer uma visita à criança no Pronto-Socorro, onde finalmente conversou com a mãe da criança.
“Continuei visitando-o nos dias de folga do serviço e fui levar um presente de Natal para ele. A mãe me convidou a batizar a criança. É uma honra muito grande e, com orgulho, eu aceitei”, disse.
Segundo a mãe, o convite surgiu de forma natural. “Se não fosse ele [cabo Vinícius], o meu filho não estaria mais aqui. Ainda estamos assustados até hoje por causa do incêndio. Tomamos tanto cuidado e acontece uma coisa dessas”, disse.
João Miguel, de apenas dois anos de idade, foi resgatado durante incêndio (Foto: Vanessa Vital/Arquivo Pesosal)
De acordo com Vanessa, no momento do incêndio, as filhas mais velhas contaram que ainda tentaram entrar no quarto onde João Miguel dormia, mas foram impedidas pelo fogo. Elas, então, correram para fora e começaram a pedir a ajuda dos vizinhos, que acionaram o Corpo de Bombeiros.
“O susto ainda está presente e eu agradeço muito a atitude que ele [cabo Vinícius] teve. Do que jeito que o meu filho estava ali, se ele não o encontrasse, ele poderia morrer”, afirmou a mãe.
Estado de saúde
João Miguel sofreu queimaduras de 3º grau que atingiram principalmente as pernas e a região das costas. Segundo a mãe, o garoto ainda sente dores e dorme apenas com a ajuda de sedativos. Devido ao tempo no hospital, João Miguel acabou pegando uma infecção hospitalar, mas já está estável, segundo a mãe.
Se não fosse ele [cabo Vinícius], o meu filho não estaria mais aqui"
Vanessa Vital
A criança passou por sua segunda cirurgia na segunda-feira (28) para a retirada de mais uma parte da pele queimada e tem uma longa recuperação pela frente. “Ele ainda deve passar por uma terceira cirurgia para que seja colocado o enxerto de pele”, contou Vanessa.
Segundo o futuro padrinho e a mãe, João Miguel não fala desde a ocorrência do incêndio e se comunica apenas com os olhos. O processo de recuperação da criança, segundo o bombeiro, deve levar de três a quatro meses.
Perícia
As causas do incêndio ainda estão sendo investigadas pelo Corpo de Bombeiros. Segundo Vanessa, os quartos ficaram completamente destruídos e a família se mudou para uma outra residência, no mesmo bairro. A casa onde ocorreu o incêndio era alugada e o proprietário ainda não foi localizado pela família para ser informado da ocorrência.
fonte:g1.globo.com
Lislaine dos Anjos - Do G1 MT
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