terça-feira, 10 de abril de 2018

Como dois cientistas políticos estão vendo o cenário eleitoral pós-Lula

© EXAME Os cientistas políticos Bolivar Lamounier e Ricardo Sennes no EXAME Fórum

São Paulo – 6 meses antes das eleições e poucos dias após a prisão de Luiz Inácio Lula de Silva, o líder nas pesquisas, tentar prever quem será o próximo presidente é tarefa ingrata.

Este foi o diagnóstico de dois cientistas políticos que participaram nesta segunda-feira (09) do EXAME Fórum PPP e Concessões, realizado no Shopping Villa Lobos em São Paulo.

“Nós temos uma eleição rigorosamente incerta. Não sabemos nem o script”, diz Bolívar Lamounier, cientista político e sócio-diretor da Augurium Consultoria.

Ele acredita que um dos fatores decisivos será a recuperação econômica: quanto mais acelerada, maior a chance de que a sociedade crie algum otimismo e veja as instituições de forma mais benévola.

O presidente Michel Temer e seu ex-ministro da Fazenda recém-filiado ao MDB, Henrique Meirelles, teoricamente seriam os beneficiados com isso – mas não devem ser candidatos, de acordo com Ricardo Sennes, economista e sócio da Prospectiva Consultoria.

Ele vê 6 pessoas consolidadas no páreo: Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Podemos), Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). A grande incógnita é o potencial de crescimento dos dois últimos.

Lula
Sennes diz que o candidato do PT tem a seu favor logo de largada a presença ideológica, a máquina do partido e o recall eleitoral, e com isso poderia chegar ao segundo turno.

Mas Fernando Haddad, se for o escolhido, terá o gigantesco desafio de reorganizar um partido órfão – e isso sem falar no que faria como eleito.

“O Haddad [teria que] controlar um governo com sindicatos, CUT e movimentos sociais que convivem mais ou menos debaixo do mesmo guarda-chuva. Alguns vão buscar lutas mais radicais, falando em luta armada, enquanto outros serão ainda mais pelegos do que já são”, diz Bolívar.

Uma coisa é certa: Lula preso não significa Lula irrelevante: “Eu acho que o STF ainda vai ter muita dor de cabeça com ele e mesmo da prisão ele mantém uma capacidade de influenciar. Não dou como morto de jeito nenhum”, diz Bolívar.

Jair Bolsonaro
A outra dúvida é a real consistência da candidatura de Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas sem Lula com um discurso fortemente baseado na segurança pública.

Para Bolivar, ele é um candidato forte pois criou vantagem em todas as regiões do pais. A partir de agora, pode tanto emular a vitória de Fernando Collor em 1989 como “se esvair no ar e sumir de uma hora para a outra”.

Sennes nota que a fraqueza de Bolsonaro é entrar na campanha sem recursos básicos de campanha que contam muito: a grosso modo, não tem partido, não tem aliados, não tem dinheiro e não tem alianças.

Além disso, tem fragilidades claras que podem ser exploradas por adversários, como o fato de ter apenas um projeto aprovado após 6 mandatos.

“Ele é rigorosamente nulo do ponto de vista político, ele era uma piada (…) Tem 7 deputados num universo de 553. Não tem nenhuma condição de governabilidade. Esse cara sofre impeachment em um ano. Não é liberal e não consegue nem fingir”, diz Sennes.

Sua aliança com o economista Paulo Guedes, conhecido pelo pensamento ultraliberal, é vista por ambos os cientistas políticos como uma tentativa de agradar o mercado que é artificial demais para sobreviver às necessidades do governo e às personalidades de ambos.

Para Bolivar, a parceria é um “curto circuito” e não duraria 3 meses. Para Sennes, bastaria uma crise internacional para Bolsonaro tirar o presidente do Banco Central e colocar um general no lugar.

Alckmin e Barbosa
O tom incerto da eleição também se traduz no contraste entre duas outras candidaturas: Geraldo Alckmin, representante do PSDB e associado ao establishment político, e Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF e recém-filiado ao PSB, como um outsider.

“Barbosa é o oposto de um político. Não é gregário em um nível mínimo. Aposto que ele não sai candidato, ou se sair vai ter menos votos porque não dá tapinha nas costas, não conversa nos corredores do Congresso. É totalmente fora do baralho, na minha análise”, diz Bolívar.

Para Sennes, a força de Alckmin é justamente a capacidade que ele teria, com seus recursos de campanha, de agregar de 8 a 9 partidos na reta final, incluindo PTB, DEM e o PP.

por João Pedro Caleiro
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