segunda-feira, 9 de abril de 2018

Lula indica Gleisi como sua porta-voz

Algumas horas antes de furar o bloqueio imposto por militantes ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e se entregar à Polícia Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato, reuniu vice-presidentes e demais dirigentes do PT, parlamentares e líderes de movimentos sociais para dar uma de suas últimas orientações políticas antes de ir para a prisão: enquanto estiver na cadeia, em Curitiba, quem fala por ele sobre assuntos do partido é a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional da legenda.

© JF DIORIO/ESTADÃO Gleisi Hoffmann visita acampamento de militantes próximo à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba onde Lula passou a cumprir pena.

À primeira vista, a ordem, anunciada em uma sala reservada, pareceu redundante, já que Gleisi foi eleita com maioria absoluta – 61% dos votos – no 6.º Congresso Nacional do PT em junho do ano passado, em Brasília. Lula, líder de fato da legenda, no entanto, teme que, na sua ausência, as correntes e grupos internos que disputam espaço no partido deflagrem uma guerra fratricida pelo poder.
Além de evitar um racha no PT, ao dar poder a Gleisi, Lula cria um canal para manter seu controle sobre o partido. Segundo líderes petistas, a decisão contrariou setores que defendiam a nomeação de um porta-voz para o período em que o ex-presidente estiver na cadeia.

De acordo com pessoas que acompanharam o desenrolar da prisão do petista nos últimos dias, as idas e vindas nos processos de tomada de decisões durante as negociações com a Polícia Federal para a rendição serviram como termômetro do que pode acontecer ao partido sem o comando de Lula. Um exemplo citado foi a escolha dos três emissários responsáveis por conduzir as negociações com a PF que, conforme auxiliares de Lula, só foi decidida após uma intensa disputa entre correntes, bancadas e movimentos sociais ligados ao PT.

A reunião na qual Lula indicou Gleisi como porta-voz teve a participação dos vice-presidentes do PT Marcio Macedo, Paulo Teixeira e Alberto Cantalice, do tesoureiro Emídio de Souza, do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e de integrantes de movimentos sociais. Segundo um dos participantes, Lula anunciou que a senadora é sua representante e mudou rapidamente de assunto, não dando margem a questionamentos.

Denúncia. Gleisi é ré na Lava Jato pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, em 2010, R$ 1 milhão do esquema de corrupção na Petrobrás foi destinado à campanha da petista ao Senado. Ela nega e se diz “vítima de perseguição política”.

A senadora integra a corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), mas até a eleição não participava ativamente da vida orgânica do partido. A escolha de Gleisi foi uma decisão pessoal de Lula, que temia a vitória de Lindbergh, apoiado por correntes da esquerda petista como Mensagem e Democracia Socialista.

Ao transferir poderes à presidente do PT, no entanto, Lula deixou claro que as decisões jurídicas cabem à sua equipe de advogados, comandada por Cristiano Zanin Martins. Alguns líderes petistas avaliam que, se Lula passar muito tempo preso, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, coordenador do programa de governo do PT, pode perder espaço.

por Ricardo Galhardo
Este site não produz e não tem fins lucrativos sobre qualquer uma das informações nele publicadas, funcionando apenas como mecanismo automático que "ecoa" notícias já existentes. Não nos responsabilizamos por qualquer texto aqui veiculado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário