Foi o 25º cotejo entre as duas seleções esse 2x2 que marcou a reabertura do Maracanã, na verdade o Novo Maracanã, muito diferente de sua fisionomia original.
Problemas com o estádio, lógico, existiram, mas serão todos contornados e o país poderá exibir ao mundo não apenas teatros e arenas de primeira qualidade tanto na Copa das Confederações como principalmente na Copa do Mundo.
A imagem do Novo Maracanã foi o prenúncio de que, no melhor estilo brasileiro, mesmo completando tudo na vigésima quinta-hora não será por falta de estádios que a Copa do Mundo deixará de ser um sucesso.
Já no tocante à seleção brasileira são outros novecentos contos de reis.
Bem verdade que nosso adversário foi a seleção inglesa e se a mesma já foi considerada como freguesa nos últimos tempos os papéis estão se invertendo.
Falemos um pouco desse English Team que através dos anos sempre demonstrou mais prestígio do que real qualidade.
Os inventores do futebol, ou pelo menos os que o institucionalizaram, durante décadas mantiveram uma posição de orgulho e prepotência sobre os que adotaram a prática da modalidade e que para os ingleses seriam sempre seus alunos.
O futebol era o esporte bretão por excelência e como tal algo que deveria estar confinado aos países que compõem a ilha gelada onde o mesmo ganhou formas e regras.
Assim, a Inglaterra não formou entre aqueles que idealizaram e fundaram uma organização mundial, a FIFA, e só no ano seguinte ao nascimento da mesma vendo que não podiam ficar à margem os britânicos se integraram à entidade.
A FIFA nasceu em 1904 e o primeiro de seus sonhos era a realização de um campeonato mundial de futebol o que, pelas circunstâncias de um mundo em tensão só foi possível ser iniciado com a Copa de 1930 no Uruguai.
Prova da posição de pretensa superioridade dos ingleses é que os inventores do futebol sentiram de pronto que eram muito superiores para se igualar aos demais países e disputar um mundial, só cedendo na quarta versão da Copa do Mundo em 1950 no Brasil.
A “pérfida Albion” como é por muitos ainda chamada a Inglaterra, indiscutivelmente líder entre os países da Grã Bretanha que conta ainda com Escócia, Pais de Gales e Irlanda do Norte fez uma triste figura nesse mundial e isto serviu para quebrar um pouco de seu orgulho.
O termo “pérfida Albion” foi criado pelo poeta francês Marquês de Ximenes (Inglaterra e França sempre foram inimigos tradicionais através de séculos) segundo o qual a Inglaterra era o reino onde jamais se cumpria a palavra empenhada ou mesmo um acordo oficial.
Albion era o nome pelo qual os romanos se referiam aos ingleses e o termo nasceu em 1793 e hoje, felizmente, está praticamente esquecido.
Interessante que nas Olimpíadas a Grã Bretanha comparece como um bloco único enquanto na Copa do Mundo de futebol cada país compete com sua seleção.
Através dos anos os confrontos entre Brasil e Inglaterra tem sido constantes e só em Copas do Mundo já houve 4 enfrentamentos e depois do empate inicial (0x0) em 1958 só houve vitórias do Brasil.
Também é significativo que em todas as Copas em que teve a Inglaterra pela frente o Brasil tenha sido o campeão.
O jogo de ontem teve um significado todo especial por estarmos vivendo o período pré-Copa das Confederações e só resta antes dessa um amistoso diante da França no domingo que vem para sabermos realmente com o que poderemos contar na importante disputa.
Além, é claro, da condição de logística para o evento maior que é a Copa de 2014, o que a Copa das Confederações mostrará o que nosso país tem já finalizado, o que resta a ser realizado, enfim tudo relacionado aos estádios, aos entornos, aos aeroportos, à segurança e ao conforto.
Mas, viemos a este espaço para falar de fatos da história, criticar aspectos pontuais e relativos ao futebol ou para falar do jogo de ontem?
O teste deste domingo que colocou frente a frente a Inglaterra, sétima no ranking FIFA e o Brasil, 19º, teve aspectos distintos e alternâncias táticas bastante explícitas.
Fosse um amistoso desses que contam apenas para o faturamento geral e poderíamos considerá-lo como uma iniciativa positiva.
Na situação atual, porém, o amistoso ganhou uma dimensão especial pelo fato do Brasil estar desde o último mundial buscando uma formação ideal sem alcançar o seu objetivo.
Dessa forma e nessa ótica ainda não foi desta vez que se definiu uma formação que poderá ser treinada e mantida para o último amistoso, domingo contra a França e em seguida a estreia na Copa das Confederações contra o Japão.
Podemos considerar que o Brasil teve um bom primeiro tempo com um domínio quase absoluto e onde a Inglaterra somente aos 40 minutos colocou para trabalhar o goleiro Júlio Cesar.
Foi, entretanto, um domínio com posse de bola, presença total no campo adversário, mas sem nenhuma demonstração maior de contundência.
Sim, compreendo e aceito que o goleiro inglês foi a maior figura dessa primeira etapa, mas não seria esse o motivo para o Brasil não ter feito um gol sequer e sim a falta de maior objetividade principalmente na preparação e finalização de jogadas.
Não é aceitável que um jogador esteja acostumado a executar um papel no clube e quando na seleção fique manietado em suas ações por determinação tática.
Assim foi principalmente com Paulinho.
O empate a 0 no primeiro tempo se não fez justiça ao domínio brasileiro esteve bem de acordo com o planejamento inglês, tanto é verdade que quando se viu em desvantagem no marcador os súditos de Sua Majestade souberam ir à frente, alcançar o empate e até virar o marcador.
Por outro lado bastaram poucos minutos para que Paulinho mostrasse a Felipão onde deve jogar.
O Brasil do primeiro tempo, embora com domínio quase total não demonstrou mesmo assim ter alcançado a formação ideal.
Tanto é que modificações existiram e algumas até tardias.
Começando com Júlio Cesar; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Felipe Luiz na defesa o segundo tempo mostrou, mesmo com a retranca inglesa pouco trabalho dando a defesa brasileira, que Felipão terá que corrigir erros de posicionamento e que Marcelo é o dono da lateral esquerda.
A meia cancha começou com Luiz Gustavo, Paulinho, Oscar e Hulk, este um pouco mais adiantado, mas ajudando bastante na cobertura.
Notem que a entrada de Hernanes foi positiva e de um chute seu nasceu o gol de Fred que abriu o marcador, mas em sentido contrário quando a Inglaterra soltou-se complicou muito para Neymar e os seus.
Na cabeça de Felipão vão permanecer inúmeras dúvidas e acredito que mesmo depois da próxima partida não terá ainda um time absolutamente titular.
Mesmo assim tem que assumir uma posição e definir se é este ou aquele.
O aspecto tático me parece o mais importante: Paulinho é um jogador precioso, mas jogando na sua, mais a frente e Hernanes, por mais qualidades técnicas que tenha não é superior a Oscar, o que temos de melhor no sentido criativo.
Paradoxalmente nessa partida Hernanes entrou muito bem.
Neymar que fez um excelente primeiro tempo não repetiu a atuação na etapa final, Fernando é útil e acredito que deva ocupar o posto de primeiro volante e Oscar o armador principal.
Julgo Lucas mal aproveitado e ainda tímido por saber que tem pouco tempo para ser útil e mostrar tudo o que pode.
A posição de Fred parece intocável, a não ser que Felipão se defina por um esquema sem centroavante como ponto de referência.
Enfim, dividindo o muito tempo que teve Mano Meneses para formar a seleção e o pouco em que trabalhou Luiz Felipe Scolari o Brasil continua sem uma formação definida quer no aspecto técnico, mas ainda no esquema tático que usará.
Esse caminho poderá ser seguido no jogo contra a França e até nas partidas da Copa das Confederações dentro de declarações do próprio Scolari de que seu objetivo é mesmo a Copa do Mundo do ano próximo.
Haverá sustentação do torcedor para que a espera tanto se prolongue?
Mesmo que não tenha havido um resultado positivo, a esperada vitória que a torcida aguardava Felipão teve a sua frente ampla possibilidade de tirar lições para a partir do jogo com a França definir uma equipe e ir em frente com a mesma.
Caso contrário o papel que Mano Meneses exerceu em mais de dois anos será repetido em todos os seus detalhes.
(Flávio Araújo)
fonte:http://www.ribeiraopretoonline.com.br/futebol-flavio-araujo/o-maracana-continua-lindo--a-selecao-nem-tanto/67139
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