sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Toda de branco, lá vai Marcela

O vestido de Marcela Temer foi o assunto mais falado do 7 de Setembro

Figurino de primeira-dama é coisa séria. Pelo menos era, quando Maria Tereza Goulart se vestia com Dener e colaborou para ele se tornar o grande nome da moda brasileira naquele momento. O.k., as senhoras dos militares nunca pontificaram na lista das Dez Mais Elegantes, do colunista social carioca Ibrahim Sued, mas sabe-se que dona Yolanda Costa e Silva chegou a se vestir com Zuzu Angel – fato que não salvou a estilista das garras do regime e ela morreu em suspeitíssimo desastre de automóvel, enquanto procurava o paradeiro, ou pelo menos o corpo, do filho Stuart, preso por atividades subversivas e em seguida dado como desaparecido.

Então, tempos depois, chegamos em Rosane Collor, aquela que surpreendeu o país com a predileção pelos sucessos sertanejos da dupla Leandro e Leonardo e por apreciar tanto classudos foulards Hermès quanto sapatos forrados com o mesmo tecido do vestido estampado, sem dispensar os brincos iguais ao colar. Tudo muito caro e brega.

Longa pausa – porque Ruth Cardoso não fazia da elegância uma questão fashion e D. Marisa Letícia exerceu com louvor o dom da invisibilidade – e no último dia 7 de setembro pudemos observar o vestido branco de Marcela Temer.

Na manhã seguinte à festa pátria, ribombaram comentários sobre o figurino da atual primeira-dama durante a cerimônia em Brasília. Se a presença do presidente provocou vaias, o vestido branco de Marcela suscitou gritos e sussurros. De que era mais adequado para um churrasco em família até que sinalizava as intenções do governo Temer: “Serenidade, ordem e progresso”, segundo análise fashion sensitiva da Folha de S. Paulo.

De minha parte, prefiro citar o que o alemão Karl Lagerfeld, diretor criativo da maison Chanel, me disse em entrevista para as Páginas Amarelas de VEJA, em 2013: “Não acho que mulheres da política devam ter uma imagem muito ligada à moda, porque correm o risco de não serem levadas a sério. Também não podem estar mal arrumadas para não se tornarem motivo de riso. Nada pode ser muito exagerado, tudo deve ter o caimento perfeito, a cor adequada e ainda fotografar bem. É um equilíbrio delicado, difícil de ser conseguido”. A fala em questão tinha ver com o estilo de três poderosas: Michele Obama, Angela Merkel e Dilma Rousseff – a quem o kaiser considerou “mais charmosa” que a chanceler alemã. Porém, cabe como valioso ensinamento protocolar.

Mas não tem jeito, usasse Marcela Temer minissaia periguete, casaco de mink ou burquíni, ela seria duramente criticada do mesmo jeito. Assim como foi muito elogiada pela trança que apresentou na cerimônia da segunda posse, em 2014, tempos em que a chapa Dilma/Temer ainda não havia esquentado.

Afinal, ela é “bela, recatada e do lar” – mesmo que ninguém tenha se dado ao trabalho de checar o real tom irônico do título da reportagem de VEJA. Casou-se com um vampiro de 200 anos, foi comparada à doidivanas Maria Antonieta por um jornal suíço – do qual até então não se tinha ouvido falar – e, portanto, merece o repúdio eterno das pessoas de bem. Em covil de velhas raposas e ideologias velhuscas, juventude e beleza é pecado mortal. Tarde demais para resgatá-la das labaredas do inferno.

Só me pergunto: o que diria Dulce Figueiredo?

Por: Mario Mendes
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