sexta-feira, 16 de setembro de 2016

‘Natural que os poderosos reajam’, diz Deltan sobre Lula

Procurador que coordena as investigações da Operação Lava Jato afirmou ontem que o ex-presidente era o "comandante" do petrolão

O procurador da República e coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba (PR), Deltan Dallangol, durante coletiva de imprensa para mostrar balanço da Operação até o momento - 14/09/2016 (Vagner Rosário/VEJA.com)

O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, afirmou nesta quinta-feira que “é natural que pessoas investigadas reajam” – numa referência aos ataques do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra os procuradores na tarde de hoje. O petista foi denunciado ontem por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, de que ele nega ser dono. Além de Lula, a mulher dele, Marisa Letícia, e outros seis investigados são alvo da acusação por suposto envolvimento no esquema Petrobras de propinas.

“É natural que essas pessoas investigadas reajam. E quando essas pessoas são poderosas econômica e politicamente as reações tomam vulto. Não nos surpreendemos, encaramos com naturalidade”, disse Deltan, durante o evento “Democracia” realizado na tarde desta quinta-feira, em Curitiba, base da força-tarefa da Lava Jato. O procurador falou sobre o projeto 10 Medidas contra a Corrupção, iniciativa do Ministério Público Federal que ele defende vigorosamente.

Ontem, o procurador classificou Lula como “comandante máximo do esquema de corrupção” instalado na Petrobras. Ele e outros procuradores da força-tarefa deram entrevista coletiva a dezenas de jornalistas, inclusive do exterior, com uso de power point – expediente que rendeu críticas de aliados de Lula nas redes.

Dallagnol relembrou que esse modo de divulgação da acusação contra investigados já foi adotado em outros “momentos decisivos e transformadores da Lava Jato”, ao longo de seus dois anos e meio de existência.

Sobre os questionamentos que tem ouvido e lido, de que não teria apontado provas contra o petista, o procurador reportou-se à sétima fase, deflagrada em novembro de 2014, que levou à cadeia o primeiro grupo de empreiteiros acusados de liderar o cartel que corrompia agentes públicos e políticos. E lembrou, ainda, da 14ª etapa, Erga Omnes, em junho de 2015, que alcançou a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, as duas maiores construtoras do país.

“Na 14ª fase chegamos a duas das maiores empreiteiras. No mesmo dia uma dessas empresas fez uma (entrevista) coletiva afirmando que não tínhamos mais do que indícios e presunções”, disse Deltan, numa alusão direta à estratégia de defesa de Lula que questiona o rol probatório da Lava Jato na denúncia contra o ex-presidente.

“Falamos em presunções, embora tivéssemos provas que consistiam nos depósitos pelas empreiteiras no exterior nas contas de funcionários públicos corrompidos”, destacou o procurador, para quem o diagnóstico da Lava Jato é “perturbador”.

Segundo o coordenador das investigações da Lava Jato, o esquema “mostrou-se muito mais amplo, envolvendo outras estatais como a Eletrobrás e o Ministério do Planejamento”.

Ele rechaçou argumento reiterado de aliados de Lula sobre uma suposta motivação político-partidária da acusação. Disse que mais de trezentos investigadores estão mobilizados para as investigações. “Somos treze procuradores, cinquenta técnicos do Ministério Público Federal, quarenta auditores da Receita e equipes numerosas da Polícia Federal, todos concursados e sem qualquer histórico de vida político-partidária. Todos fazem parte dessa ‘conspiração’?”, ironizou.

No início da palestra, Deltan arrancou aplausos e gargalhadas da plateia, ao ironizar a repercussão sobre o uso de power point na coletiva da quarta-feira, quando foi anunciada a denúncia formal contra Lula. “Vou decepcionar vocês porque não vou falar (sobre a denúncia), nem vou usar nenhum slide aqui’.

(com Estadão Conteúdo)
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