O jornal britânico mostra em reportagem o desenvolvimento da operação que, na visão do periódico, está fazendo a própria democracia "cambalear" no Brasil
Mulheres empunham bandeiras do Brasil em protesto a favor da Lava Jato em Brasília, em 26 de março de 2017 (Ueslei Marcelino/Reuters)
São Paulo – Ainda longe de terminar, a operação Lava Jato já é um marco histórico no combate à corrupção no Brasil, segundo o jornal britânico The Guardian.
Em uma longa reportagem, o jornal recupera a história desde o estopim da operação, em 2014, até as mais recentes acusações que atingem o presidente Michel Temer após as delações da JBS.
Segundo o repórter Jonathan Watts, que assina o texto, a investigação, que partiu de suspeitas sobre doleiros e se estendeu para englobar o coração da Petrobras, da Odebrecht e da vida política do país, vive agora momentos críticos.
Em sua avaliação final, o repórter afirma que a própria independência da investigação está em jogo, com a diminuição dos repasses às entidades responsáveis, que está sendo levada a cabo pelo atual governo de Michel Temer.
Watts avalia: “O Brasil certamente precisava enfrentar a corrupção, que exacerbou a desigualdade e impediu o crescimento econômico. Mas a operação Lava Jato valeu a dor que causou? Ela ajudou a derrubar o PT, mas colocou, em seu lugar, uma administração tão manchada quanto a anterior, só que muito menos disposta a promover a transparência e a independência judicial”.
“A Petrobras – a campeã nacional da era Lula – está de joelhos […] Grandes empresas e políticos tradicionais estão desacreditados. Os eleitores sofrem para encontrar alguém em quem acreditar. Não é só a política que está cambaleando, é a própria república”.
No longo prazo, o repórter finaliza, há quem acredite que a Lava Jato vai transformar o Brasil em um país mais justo.
Mas, na análise dele, o risco é que a operação abale de morte a já frágil democracia do país, abrindo caminho para uma “teocracia evangélica de direita” ou um retorno das ditaduras.
Mais importante do que quem cai na Lava Jato, para o The Guardian, é quem entra no lugar.
Por Luiza Calegari
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