quarta-feira, 21 de junho de 2017

STF adia julgamento de pedido de prisão de Aécio Neves

Relator Marco Aurélio Mello tira processo da pauta após defesa pedir que caso seja julgado pelo plenário; irmã e primo de senador vão para prisão domiciliar

Senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) - 10/03/2016 (Jorge William/Agência o Globo)

O presidente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, retirou da pauta da sessão desta terça-feira pedido feito pelo Ministério Público Federal para que o senador Aécio Neves (PSDB) seja preso. A decisão foi tomada depois de a defesa do parlamentar apresentar um novo recurso pedindo que o caso seja analisado pelo plenário da Corte, formado por onze ministros.

O tucano foi afastado do mandato em maio por determinação do ministro Edson Fachin, que rejeitou a sua prisão preventiva. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recorreu ao plenário, pedindo que a decisão fosse reconsiderada. Mello pautou o processo para a Primeira Turma, e não para o plenário, o que motivou nova contestação. Nesta terça, o ministro decidiu analisar o novo apelo da defesa. Por consequência, também foi adiado o julgamento do pedido do senador para retomar o mandato.

No início do mês, Aécio foi denunciado pelos crimes de corrupção passiva e obstrução de Justiça. Segundo a acusação, ele pediu e recebeu propina no valor de 2 milhões de reais do empresário Joesley Batista, dono da JBS e, enquanto parlamentar, atuou nos bastidores do Congresso para aprovar medidas que pudessem atrapalhar a Operação Lava Jato.

A atuação de Aécio contra a operação é a carta na manga de Janot para levar o senador para trás das grades porque o crime poderia ser interpretado, na avaliação do Ministério Público Federal, como permanente e, portanto, possível de ser classificado como flagrante. A tese jurídica é importante porque, conforme o artigo 53 da Constituição, membros do Congresso Nacional não podem ser presos “salvo em flagrante de crime inafiançável”. Em 2015, o STF analisou pedido semelhante e considerou que a atuação do então senador Delcídio do Amaral (ex-PT) de coagir o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para obstruir as investigações da Lava Jato seria um crime permanente e, portanto, passível de prisão.

De acordo com a denúncia apresentada pelo MPF, desde 2016, Aécio tentou interferir na distribuição de inquéritos na Polícia Federal, buscando delegados de sua confiança, e atuou junto a parlamentares para aprovar temas como a anistia ao caixa dois e o projeto de lei de abuso de autoridade, tema que poderia, segundo a acusação, retaliar investigadores e travar apurações sobre o escândalo na Petrobras.

No caso do pedido de 2 milhões de reais, a PF filmou três entregas de dinheiro a Frederico Pacheco de Medeiros, um primo de Aécio, na sede da JBS, em São Paulo, feitas pelo diretor de relações institucionais da empresa. O ex-assessor parlamentar do senador Zezé Perrella (PMDB-MG), Mendherson Souza Lima, também foi apontado como uma das pessoas responsáveis por transportar parte dos 2 milhões de reais atribuídos ao senador afastado. Mendherson é cunhado de Perrella – na casa da sogra dele, foram apreendidas duas sacolas com 480.000 reais. Nesta terça-feira, por 3 votos a 2, a Primeira Turma determinou que ele fosse para a prisão domiciliar. A decisão acabou estendida a Frederico Pacheco de Medeiros, o Fred, primo de Aécio, e a Andrea Neves, irmã do senador.

Votação
O placar das decisões que tiraram a irmã e o primo de Aécio da cadeia é idêntico ao do entendimento que beneficiou Mendherson. Votaram pela troca da prisão preventiva pela domiciliar os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Fux, enquanto Marco Aurélio Mello concordou apenas com a imposição de medidas cautelares. Rosa Weber e Luís Roberto Barroso decidiram pela manutenção do encarceramento.

Presos na Operação Patmos, deflagrada em 18 de maio a partir das delações premiadas da JBS, Andrea e Fred foram denunciados pela PGR ao STF, ao lado de Aécio, por corrupção passiva e obstrução de Justiça. Na semana passada, a mesma Primeira Turma do STF havia decidido, por 3 votos a 2, manter Andrea na prisão.

A jornalista é acusada por ter procurado Joesley e pedido a ele 40 milhões de reais, sob a justificativa de que o dinheiro era o valor que deveria ser pago na compra do apartamento da mãe, no Rio de Janeiro. A transação para o futuro repasse envolveu também Aécio, que, conforme depoimentos do dono da JBS, teria afirmado que, no caso de emplacar Aldemir Bendine na presidência da companhia Vale, o próprio Bendine “resolveria o problema dos 40 milhões pedidos por Andrea Neves”.

Por Laryssa Borges
Este site não produz e não tem fins lucrativos sobre qualquer uma das informações nele publicadas, funcionando apenas como mecanismo automático que "ecoa" notícias já existentes. Não nos responsabilizamos por qualquer texto aqui veiculado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário