sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Foi sem querer, querendo: a morte de Santiago e a agonia de Caio e Fábio


Santiago Andrade é o cinegrafista da TV Bandeirantes que foi morto por um disparo de um rojão na nuca, por ocasião da manifestação de protesto ocorrida no Rio de Janeiro, dia 6 de fevereiro último. O rojão foi acendido e lançado pelos manifestantes Caio da Silva Souza e Fábio Raposo, que, com isso, desceram ao abismo do inferno humano, responsabilizados pela morte intempestiva de um homem. A frase “foi sem querer, querendo” é de autoria do genial comediante Chávez, que há três dezenas de anos delicia e instrui a infância brasileira (e muitos adultos que acompanham seus filhos) com as peraltices de um menino órfão que vive numa vila de pobres coitados e excluídos no México.

Todo mundo sabe o que é “foi sem querer, querendo”. Invertendo a frase fica quase o mesmo sentido, talvez uma pouquinho mais incerto. De qualquer modo, um pequeno ato de ingênua maldade, cujo resultado termina indo além do intencionado.

Santiago, em vida, era um profissional querido e respeitado, pai de família devotado, preocupado com a situação do povo e o destino da nação brasileira. Foi devidamente honrado pelos seus familiares, amigos e pelo público brasileiro. Sua morte talvez não seja em vão, se daqui por diante as manifestações de protesto contra o descaso e a irresponsabilidade das autoridades públicas brasileiras mudarem de método e resultarem em chamamento à responsabilidade dessas autoridades.

Os rapazes responsáveis direto pelo atentado mortífero são fruto de uma época de descalabro social, de irresponsabilidade política e desumanização, tudo isso sob um falso manto de auto-complacência. Dois garotos de 23 anos, um filho do proletariado excluído de imigrantes nordestinos, da Baixada Fluminense, lutando para ter um emprego, o mais simples possível, e para manter o nariz limpo; o outro, filho da classe média baixa do subúrbio do Rio de Janeiro, inseguro de sua posição social, sem possibilidades de ascensão social.

Ambos sentem os grandes problemas da exclusão social em que vivem. Poucas chances de fazer uma faculdade, de obter uma profissão satisfatória. Ambos tentam obter o máximo que podem nos limites de suas condições sociais. Ambos subordinados às dificuldades de sobreviver numa cidade cada vez mais caótica e mais excludente.

Os dois rapazes vinham há meses se esforçando por fazer parte de uma situação social e política mais ampla, através de um movimento com raízes sócio-políticas mais envolventes, mais atraentes, por advir de uma ideologia e de uma classe social mais segura de si, mais certa de que seus atos seriam de algum modo acolhidos, ou ao menos não condenados de todo.

Impunes seriam pelo que faziam, como todos ao seu redor. Quem os visse os recepcionariam como um deles.

Os rapazes simples, e de muitos modos ingênuos, tiveram o azar de serem eles os responsáveis diretos pela morte de um homem digno. Outros estavam fazendo coisas semelhantes, mas o destino não os tragou na tragédia.

Caio e Fábio estão lançados no caldeirão do inferno social. Sobreviverão à prisão a que estarão condenados? Quem os perdoará? A sociedade precisa de bodes expiatórios para refazer sua vida, para reviver, para acreditar na redenção. A família de Santiago não pode desonerar-se pela perda de seu ente amado. Seria exigir demais de quem sofre mais. E as leis, cruéis nos seus alvos escolhidos, não permitem perdão.

A menos que todos nós nos conscientizemos de que temos nossa parcela de culpa por essa morte e pela agonia que se seguirá, essa tragédia terá sido toda em vão, uma desonra para nossas vidas.

fonte:http://br.noticias.yahoo.com/blogs/mercio-gomes/foi-sem-querer-querendo-morte-santiago-e-agonia-161118846.html
Por Mércio P. Gomes
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