sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Dono da RedeTV! sobre Lava Jato: ‘Uma hora isso tem que acabar’

Em artigo publicado na 'Folha de S.Paulo', Marcelo de Carvalho diz que operação paralisa agenda positiva e impede crescimento do país

Marcelo Carvalho, um dos sócios da RedeTV!

Em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo desta sexta-feira, Marcelo de Carvalho, apresentador e sócio da RedeTV!, também conhecido por ser marido da ex-modelo e apresentadora Luciana Gimenez, faz duras críticas à Operação Lava Jato. Carvalho vê abuso de poder na operação movida pela Polícia Federal, abuso que configuraria prática de um “Estado totalitário”, e a culpa por paralisar o país, ao impedir a implementação de uma agenda positiva capaz de levar à retomada do crescimento. Para ele, a Lava Jato está criando um clima de caça às bruxas que faz de todo empresário e todo político suspeitos de corrupção, quando na verdade a prática de pagamento de propina e fraudes em licitações existe “desde os tempos do Império”.

“A Lava Jato não descobriu nada de inédito. Na verdade, trouxe-nos um choque de realidade. O esquema de obtenção de obras públicas por meio do pagamento de comissões aos agentes governamentais é algo arraigado e disseminado desde os tempos do Império. Sempre falamos disso. Quando pequenos ouvíamos nossos pais contarem anedotas a respeito. Quem não tem uma para contar? Quem não se lembra do ‘rouba, mas faz’?”, escreve Carvalho no início do artigo. “No entanto, a partir do momento em que se puxou a primeira cordinha, passou-se a desenrolar um novelo interminável que atinge, é óbvio, praticamente todos os partidos, assim como agentes públicos em todos os níveis. Indo-se mais para trás, as grandes obras das décadas passadas passariam ilesas? As privatizações? A construção de Brasília? Juscelino Kubitschek, Adhemar de Barros, Getúlio Vargas? E o barão de Mauá?”

Para o sócio da RedeTV!, o maior prejuízo da prática da propina é inflar o valor das obras públicas, que passam a custar bilhões a mais do que originalmente deveriam consumir. “O mais nocivo é o overprice da obra, pois ao receber a “contribuição” — seja doação, dinheiro vivo, joias, carros, sítios ou apartamentos multiplex- o agente público ou a empresa estatal contratante fazem vistas grossas ao custo do projeto em si. E aí o aumento não é da ordem de 1%, 2% ou 5%, mas sim de bilhões e bilhões de reais.”

O abuso de prisão por períodos longos sem ter havido julgamento do acusado e o exagero no uso da delação podem levar a um paradoxo em que o preso, desesperado, passa a ‘delatar’ o que o seu acusador quer ouvir, e não a verdade

Exposto que ele chama de “crack cultural”, o da corrupção arraigada há gerações e gerações no país, Carvalho defende que a Operação Lava Jato precisa ter fim. “Mas sejamos práticos: uma hora isso terá que chegar ao fim. Do contrário, podemos cristalizar uma mentalidade de caça às bruxas (o que já ocorre, por sinal), em que todo empresário é bandido e todo agente público é corrupto”, diz. “Qualquer agenda positiva e necessária é interrompida pela incessante divulgação de denúncias e mais denúncias. O país não pode parar indefinidamente, esperando para saber qual será a operação da Polícia Federal da próxima semana, como capítulos de uma novela interminável. O Brasil precisa voltar a crescer. As reformas importantíssimas têm de ser aprovadas. E mais: teremos eleições em 2018. Se você não gosta do político A, B ou C, não o reeleja. Vote em quem considera sério e honesto”, diz.

Para a conclusão, Carvalho reserva as mais duras críticas à Lava Jato — é quando fala do abuso de poder e em Estado totalitário. Mas também se preocupa em não parecer um defensor da corrupção. “Para concluir, temos que acender uma luz de alerta. Como diziam nossos avós, ‘Devagar com o andor, porque o santo é de barro’ — o abuso de prisão por períodos longos sem ter havido julgamento do acusado e o exagero no uso da delação podem levar a um paradoxo em que o preso, desesperado, passa a ‘delatar’ o que o seu acusador quer ouvir, e não a verdade. E aí estaremos balançando o pêndulo em um perigoso movimento inverso: saindo de um Estado corrupto e agitado para um Estado totalitário e estagnado. Nem um nem outro é desejável.”

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