quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Grafiteiro preso em Cuba é espancado

Danilo Maldonado, conhecido como "El Sexto", foi detido por comemorar morte de Fidel com grafite

Grafite de El Sexto Arroyo Arenas, Havana (Duda Teixeira/VEJA.com)

Duas horas depois da morte de Fidel Castro, o grafiteiro Danilo Maldonado, pichou “se foi” na parede do hotel Habana Libre e foi detido. Na prisão, ao pedir um remédio para conter uma crise de asma, ele foi segurado pelos oficiais e espancado. Só o rosto não foi atingido.

Sua mãe, Maria Victoria Machado González, de 55 anos, o visitou no domingo à noite depois de receber uma ligação de um companheiro de cela do seu filho, avisando que ele estava no cárcere de Guanabacoa. Ela surpreendeu os policiais, que permitiram o encontro. Depois, Maria Victoria perguntou qual era o número da causa, para que pudesse chamar um advogado, mas não teve resposta. “Meu filho sempre se manifestou contra o Estado e eles não entendem isso”, diz ela na sua casa no bairro de Arroyo Arenas, em Havana. El Sexto está sendo acusado de dano à propriedade.
Maria Victoria, mãe de El Sexto, em Havana

Maria Victoria em sua casa de Arroyo Arenas com uma pintura do filho El Sexto chamada La Chiva. A palavra, que quer dizer A Cabra, é comum para designar os que delatam os vizinhos para oficiais comunistas (Duda Teixeira/VEJA.com)

Perto de sua casa, há vários grafites de El Sexto. Os que tinham conteúdo político foram apagados. Após sua última prisão, pessoas anônimas escreveram a frase “O cavalo já se foi. Agora falta a égua” em um ponto da parede onde El Sexto já tinha deixado uma mensagem.

Em Cuba, é comum escutar referências que colocam em xeque a virilidade do ditador Raúl Castro. Muitos o chamam de “La Loca” (a Louca, em espanhol).

Grafite de El Sexto em muro de Arroyo Arenas, em Havana

Historiadora e filósofa, com mestrado em Ciência da Educação, Maria Victoria perdeu seu emprego estatal depois que El Sexto começou com seus grafites pela cidade. O lugar onde ela dava aulas de informática para militares, com um salário equivalente a 27 dólares, foi fechado.

Ao falar, ela deixa claro seu orgulho pelo filho. Há vários anos, ele começou a frequentar as manifestações de domingo do grupo Damas de Blanco, que pede a libertação dos presos políticos. “Ele dizia que os policiais batiam e sequestravam as mulheres, mas eu não acreditava. Só depois que o prenderam pela primeira vez é que entendi o que fazem de verdade. Hoje sou opositora”, diz ela.

Na semana antes de Fidel morrer, El Sexto passou em uma reunião do Comitê de Defesa da Revolução dos seus vizinhos e gritou: “Abaixo, Fidel! Abaixo Raúl”. É um artista incansável. Quando esteve detido em uma delegacia, escreveu sua assinatura por todo o banheiro. Agora, a mãe espera que o liberem logo. “Já disseram que ele terá de deixar o país assim que for solto”, diz a mãe.
Arte de El Sexto na porta de sua casa em Havana

Desenho na porta da casa do grafiteiro El Sexto, em Arroyo Arenas, Havana (Duda Teixeira/VEJA.com)

Por Duda Teixeira, de Havana
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