quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Polícia perdeu o controle sobre quase um terço das áreas de UPP

Na UPP mais comprometida, a Nova Brasília, no Complexo do Alemão, a mobilidade dos policiais só é possível em apenas 24% da área da unidade

Rio - Levantamento ao qual O DIA teve acesso mostra que a polícia não consegue atuar em quase um terço do total do território que deveria ser ocupado pelas Unidades de Polícia Pacificadora implantadas. Na UPP mais comprometida, a Nova Brasília, no Complexo do Alemão, a mobilidade dos policiais só é possível em apenas 24% da área da unidade. Há risco de confronto com traficantes caso passem do perímetro de segurança.

O documento, organizado pelo Instituto de Segurança Pública, retrata a situação das 39 UPPs no primeiro trimestre deste ano e é um dos diagnósticos analisados pelo chamado Comitê Permanente de Avaliação e Deliberação da Secretaria de Segurança, comissão criada pelo secretário Roberto Sá para avaliar o programa de pacificação. Entre as reuniões quinzenais do grupo já há o debate de retirada do efetivo policial de algumas unidades.

Nova Brasília é apontada no levantamento como a UPP em que os policiais têm a maior perda de território - Severino Silva / Agência O Dia

Três UPPs lideram o ranking com maior área perdida para o crime: além da Nova Brasília, a vizinha Parque Proletário (Penha), e São Carlos, no Centro. Todas têm mais de 70% da área comprometida. Somente cinco das 39 unidades tinham, na época do levantamento, total locomoção dos agentes pelas ruas sem o risco iminente de confrontos. Eram elas: Dona Marta, Vidigal, Babilônia, Cerro-Corá e Barreira do Vasco. A situação pode ter mudado pois, na última semana, uma imagem emblemática da derrocada do programa circulou o mundo: a estátua de Michael Jackson, no coração do Dona Marta, com um fuzil. Não é só o tráfico que confronta os policiais. Na UPP Batan, três grandes regiões são controladas por milicianos que enfrentam os policiais.

Relatórios de confrontos indicam que, nos últimos três meses, 90% das UPPs apresentaram tiroteios. Mais da metade (56%) das bases onde ficam os policiais foram alvos de tiros. No total, 64% das unidades tiveram algum agente com ferimentos — provocados por tiros ou por pedradas, por exemplo. E, em quase 65% das UPPs, há barricadas na comunidade.

A comissão analisa também a quantidade de armas das unidades, coletes, viaturas e estrutura. Mais de 60% do efetivo ainda está em contêineres. Em entrevista de Sá ao DIA, no início do ano, sobre a possibilidade de retirada de unidades, o secretário disse que acredita no projeto. “A população residente nas áreas com UPP confia nas unidades e as quer”, disse o secretário.

Especialista diz que ‘não tem conserto’
Para a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, o projeto das UPPs não tem mais jeito. “Não adianta a gente se enganar. As UPPs não têm conserto, não há como dizer que você vai redirecionar ou reformular”, opinou. Pela sua análise, é necessário se repensar a política de Segurança Pública, principalmente escutando as necessidades dos moradores. “É necessário uma estratégia de policiamento comunitário que seja digna do nome. Não adianta a gente se enganar e enfrentar com violência o crime nas favelas”.

Para Julita, a reprovação das UPPs é culpa do governo. “Não foi feito o dever de casa. Estamos recolhendo os frutos da miopia e da crença de que policiamento comunitario poderia ser feito sem diálogo com a comunidade”, disse.

Deputado quer CPI para analisar a situação do projeto
O vice-presidente da Comissão de Segurança da Alerj, Bruno Dauaire (PR), recolheu 36 assinaturas essa semana para criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a situação das UPPs. “Queremos debater os direitos dos policiais. Alguns se deslocam do interior, às vezes pagando do próprio bolso. Fiz pedido de informações para a Polícia Militar, como a quantidade de efetivos por turno nas unidades e nos batalhões. O comando da Polícia Militar me negou”, disse.

Segundo o deputado, existe um aumento exponencial, nas áreas com UPPs, de pedidos de licenças médicas, o que fez ele protocolar um pedido de projeto de lei sobre o tempo máximo de permanência de agentes públicos nas UPPs. “O número de agentes afastados por problemas psiquiátricos nessas áreas é alto. Isso se deve ao estresse constante, com tiroteios e insegurança. Quero aprovar um projeto para que o policial fique no máximo dois anos em áreas conflagradas”, afirmou.

No dia 30, uma audiência pública com representantes do Ministério Público, da Polícia Militar e da Secretaria de Segurança será realizada devido à série ‘Rio Sem Polícia’, publicada, em junho e julho, pelo DIA. As reportagens apontaram o grau de precariedade da estrutura policial no combate ao crime.

por Bruna Fantti
Este site não produz e não tem fins lucrativos sobre qualquer uma das informações nele publicadas, funcionando apenas como mecanismo automático que "ecoa" notícias já existentes. Não nos responsabilizamos por qualquer texto aqui veiculado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário