O jornalista Washington Novaes, em seu artigo em O Estado de S. Paulo de 17/5, registra a conclusão a que chegou uma equipe de filósofos e matemáticos do Instituto do Futuro da Humanidade, da Universidade de Oxford. Desastres naturais, uso sem limites da biologia sintética, das nanotecnologias no nível subatômico ou molecular e da inteligência artificial seriam as causas do autoextermínio da raça humana.

Uma leitura superficial e irrefletida poderia vislumbrar nessa previsão um sentido de determinismo, de inexorabilidade, ao qual todos nós deveríamos nos conformar e simplesmente dizer a nossos netos e bisnetos que simplesmente aguardem seu fim, o fim da aventura humana sobre a terra.
Refletindo mais a fundo sobre o vaticínio desse colégio de homens sábios, entretanto, o que fica claro é o exercício da autoconsciência e a capacidade de resolução de problemas pela espécie que povoa o planeta desde sua origem há 200 mil anos na África e sua caracterização moderna há cerca de cinquenta mil anos. Trata-se de um alerta que alguns representantes da espécie animal, capaz de produzir ferramentas, alterar o meio-ambiente e promover a resolução de problemas complexos, como os apontados, fizeram com o objetivo de evitar esse acontecimento dramático.
O que sugerem é uma correção de rumos, não raro ocorrida somente após uma previsão fatal, para que seus pares bípedes de cérebros privilegiados acordem a tempo. Especificamente, os desastres naturais podem ser evitados, com o emprego de tecnologia destinadada a superá-los. O exemplo é simples: não se trata de explorar as riquezas do pré-sal a todo custo, especialmente o de esparramar uma quantidade incomensurável de sujeira sobre nosso oceano. Há ferramentas altamente desenvolvidas que podem impedir uma catástrofe desse tipo , mas é preciso estar disponível a instalá-las, aumentando substancialmente o custo produtivo.
Para tanto, a inteligência de governos e produtores deve voltar-se para a sustentabilidade planetária, não se restringindo à busca do desenvolvimento e do dinheiro fácil. A substituição da energia suja e exaurível por fontes alternativas, como o hidrogênio, implica em disputas políticas e econômicas que essa gente sábia provavelmente terá de enfrentar com garra, mas é possível supor a vitória da racionalidade sobre os instintos. A Unicamp já produziu um protótipo de automóvel movido a hidrogênio. Ao estacionar na garagem, proporcionaria energia geral à casa. Não passou de um sonho do homo sapiens, derrotado por outros da mesma espécie, voltados para interesses individuais e mesquinhos.
Esses reveses, porém, podem ser meramente episódicos e, ao fim e ao cabo, triunfar a inteligência que conduziu a raça até nossos dias. Os ilustres matemáticos e filósofos de Oxford não condenaram o emprego da biologia sintética, uma genial combinação entre engenharia e biologia, em que esta não se limita a descrever e analisar os genes existentes mas avança à construção e avaliação de novos genes, sim, seu uso irrestrito. A espécie produto de um milagre, como disse Jung, que logrou tal proeza, é igualmente capaz de se autorregular. O jurídico, a restrição normativa e legítima da liberdade entra em cena.
As nanotecnologias são uma conquista da física quântica, que difere da clássica física newtoniana precisamente por compreender que vivemos não no determinismo mas num mar infinito de possibilidades. Ou seja, as correções de rumo são viáveis e factíveis. Tudo só depende da vontade do homem, devidamente organizado em sociedade.
A vida subatômica dos elétrons conscientes, dos bózons e elétrons, pode nos proporcionar o homo sapiens sapiens, que sobreviverá ao fim previsto, num salto para o hoje inimaginável.
A inteligência artificial, também devidamente normatizada, proporcionará pela via computacional a multiplicação de inteligência humana, o que não pode ser visto como algo entrópico.
Portanto, o que depreendemos da exposição dos gênios de Oxford é o fim do homo sapiens tal como nos conhecemos, mas o prosseguimento da vida, em compasso com a constante expansão do universo, desde que saibamos erradicar o lixo que ora produzimos: em sentido estrito e, principalmente, o lixo das relações sociais injustas e predatórias e dos conflitos, que sucateiam nosso lar. Isso se faz na área política, cujos protagonistas estão longe da seriedade ética dos homens da ciência.
* Amadeu Garrido, doutor, é advogado.
fonte:http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2013/05/22/o-fim-do-homo-sapiens-em-um-seculo/
imagem:www.guokr.com
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